Wednesday, March 21, 2012

curiosity killed the cat

maria passeava-se pela rua com o seu troféu. Tinha-o ganho a custo no concurso onde tantas outras marias tinham participado. A ostentação e o orgulho daquilo que agora era seu reflectia-se na forma de andar. A altivez, o porte e a imponência não lhe acresciam qualquer tipo de beleza. maria era uma mulher feia, desde sempre. Tinha concorrido a outras tantas competições sem nunca ter conseguido mais do que quartas e terceiras posições. Desta vez não, arrecadou para si o primeiro e único prémio. Na rua, quem passava ia comentando entre dentes o valor do mesmo, se teria sido ganho com mérito, se teria valido a pena, se agora maria iria descansar de tantos anos de competição. Com as raízes descoloradas e com ar cansado, maria chegou a casa, descalçou os sapatos, meteu a estatueta na prateleira do móvel e olhou-se ao espelho. Não viu nada. A sua face não era reflectida. Corre então à casa de banho e tenta ver-se novamente, desta feita num espelho grande em talha dourada, o mesmo resultado. A inexistência. Vê atrás de si a banheira antiga de esmalte, o vaso de gerânios, a luz que entra pela pequena janela, as toalhas penduradas brancas de algodão e do corpo dela nada. Gesticula, esbraceja, bate no espelho à espera de resposta. Nada. Cansada, senta-se no chão de mármore rosa e chora. As lagrimas que lhe escorrem pela cara aninham-se depois nas suas pernas nuas. maria reconhece o sabor amargo de quem troca a alma por aquilo que levou a passear à rua.

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