Tuesday, February 22, 2011

trust

Seria a espera propositada? Seria o silêncio parte integrante disto a que se chama tempo?

Sem saber, Osório caminha. Caminha rumo a algo que desconhece. Osório terá 50 anos, talvez um pouco mais, dada a cara crivada de rugas e o bigode espesso que esconde a falta de dentes. Na rua, debaixo da entrada do banco ajeita os cartões que foram, são e serão, a sua cama. Osório tornou-se invisível desde que a troco de pouca coisa deixou a mulher. Quando por vontade própria decidiu morar na rua e esta consentiu, o dom de invisibilidade aterrou sobre ele. Esteja sobre e sob os cartões, seja na mercearia a surripiar um pacote de vinho, Osório desaparece.

Na noite em que o vento de norte corta como facas, Osório procura conforto num brandy manhoso que o colega de cartão roubou na tasca, enquanto o dono babava para cima do par de seios da dona Aurélia.
Após dar como terminado a sessão de brandy e três ou quatro beatas fumadas, Osório decide testar a sua invisibilidade. Levanta-se cambaleante, aproxima-se da berma do passeio, olha à sua esquerda e vê aproximar-se o 32 com destino aos Anjos, fecha os olhos e dá um passo em frente.

No comments: