Thursday, July 9, 2009

living dead

Avançam os pés sujos descalços até ao final do balcão. Pede-me um bolo, que tem fome, anuo e digo-lhe que escolha. Pergunto-lhe de onde é. Responde-me que da Roménia. Na boca, entre bocados de pata de veado e dentes de ouro brincam palavras num português pobre. Diz-me que tem cinco filhos. Não lhe perguntei nada. Que estão na Roménia, mas que vêm para cá. Pergunto-lhe a idade. Trinta e um. Reparo nos olhos. De um castanho muito escuro, a roçar o negro. Mas o que me intriga não é a cor. É a falta de brilho. Imagino cabeças de um qualquer animal, numa banca. Perfiladas para que se escolha aquela que mais agrada. Onde a humidade natural dos olhos deu lugar à distância vítrea de quem apenas deixou ali a cabeça para ser vendida.

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