Wednesday, July 9, 2008

Summer ice creams

Na mesa de esplanada em frente à minha estão sentadas três mulheres. A mais velha é particularmente feia. Cabelo oxigenado ralo, de lábios extremamente finos de onde o batom vermelho vivo sobra, na tentativa vã de parecerem maiores os finos fios de carne. Nos dedos moram anéis de formas várias entre o dourado e a prata, e no pescoço de peles despregadas, fios de ouro e um terço branco de plástico. Ri, fala e gesticula, conta à vizinha de mesa a novela que acabou de ver. Entre a conversa das duas está a mais nova. De cabelo preto farto, recostada na cadeira branca de plástico, parece nada ouvir. Os seus dedos encaracolam ainda mais uma melena por cima do ombro direito. Olha para cima, para os lados, para todo o lado, menos para elas. Passa a mão para o queixo, onde tenta espremer pontos negros que limpa nas calças justas e brancas. Fixa então o olhar no homem. Adquirem luz os olhos castanhos-escuros grandes. Ele não nota. Na azáfama de levantar chávenas de café, pratos pequenos lascados e garrafas de cerveja, nem repara na existência dela. Quando retorna ao interior do café, ela faz questão de ir pagar ao balcão, levantando-se de pronto, ajeitando a blusa vermelha ruça e endireitando as costas fazendo espetar o peito. Passa por mim e sinto-lhe o perfume barato. Imagino os dois, a passear junto à Ria, comendo gelados de bolas coloridos e ele com a mão sobre o ombro a brincar com a melena dela.

i am you

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