Tuesday, July 8, 2008

Empata.

No meio de um mar de pernas, a menina sentada no chão chora baixinho. Numa ladainha quase imperceptível, ali está ela, entre joelhos e canelas com metade de uma bolacha Maria numa mão e a outra agarrada à túnica da fêmea. Tenho a sensação de que aquela menina é invisível, que ninguém a vê. Que meramente ali se encontra por acidente. Entre conversas e risos, ali está ela, o ser mais pequeno e frágil do mundo, à espera de um colo, que tarda a chegar ou talvez nem chegue. O calor sufocante faz com que os olhos se cerrem para aclarar a visão. Encontro-me ao mesmo nível daquela menina, sentado no chão. As vozes que me rodeiam ali falam do almoço que já foi, de sangrias e de whisky com gelo. Fala alto o álcool quando ainda corre nas veias. Desfoco os meus ouvidos dali e encontro-me no olhar perdido daquela criança que exaspera agora por atenção. O choro cresceu, a bolacha já não está na mão e dos olhos já inchados não param de nascer pequenas lágrimas que descem pelas bochechas rosadas. Num repente, a fêmea puxa-lhe um braço e com a outra garra desfere uma bofetada numa das bochechas rosadas. O choro amansa talvez à custa da dor, a menina encontra no chão o resto da Maria e volta a saboreá-la juntamente com o ranho que lhe sai do nariz. A fêmea fala de lojas e saídas à noite, de jantares e de praia novamente no dia a seguir. Sobra só aquela menina. Que não deveria estar ali.

i am you

1 comment:

canalsonora said...

gosto mais desta foto de capa do teu blogue de que sou leitor assiduo. como sabe considero o amigo como um dos principais artistas comtemporaneos da minha cidade. embora não tenha visto a peça- nao sei quantos pt.2 sei que tem ido muito bem.
um abraço-p.jubilot.canal sonora , agora também em estereoscopio-steroscope.blogs.sapo.pt